Na última sexta-feira (3), Iuri Albuquerque Gonçalves, advogado e filho da Procuradora-Geral de Justiça do Ministério Público do Amazonas (MP-AM), Leda Mara Albuquerque, foi nomeado Procurador-Geral da Câmara Municipal de Manaus (CMM). O cargo, que oferece uma remuneração de até R$ 28 mil, coloca Gonçalves em uma posição de destaque e poder político, e reacende os questionamentos sobre o trânsito livre entre o poder legislativo e o Ministério Público.
A nomeação foi assinada pelo presidente da CMM, David Reis (Avante), um nome frequentemente associado à falta de transparência e à defesa de interesses próprios em detrimento do interesse público. O fato de Iuri ser filho de Leda Mara, atual Procuradora-Geral do MP-AM, levanta uma possibilidade de uma rede de proteção e troca de favores que possa garantir uma blindagem institucional para Reis, que em outras ocasiões já foi alvo de críticas por sua condução dos processos no Legislativo.
A proximidade entre o poder legislativo e o Ministério Público, por meio dessa nomeação estratégica, cria um cenário altamente questionável, em que as fronteiras entre os interesses pessoais e o bem público parecem mais tênues do que nunca. Iuri Gonçalves, com sua nova posição, terá a responsabilidade de representar a CMM em tribunais, assessorar juridicamente o Legislativo e garantir a legalidade dos processos da casa.
Embora o salário-base de R$ 18.678,00 pareça razoável, a realidade é que os benefícios e gratificações podem fazer com que o valor final ultrapasse R$ 28 mil mensais, um privilégio que certamente atrai mais atenção do que a busca pela transparência.
A remuneração e os benefícios exorbitantes, além da evidente proximidade com a alta cúpula do MP, apontam para uma jogada estratégica que, no mínimo, deveria ser mais bem examinada.
Caso semelhante
Não é de hoje que a procuradora-geral do MP-AM, Leda Mara Albuquerque, tem membros de sua família ligados ao poder municipal. Em 2020, seu irmão, Luciano Mauro Nascimento Albuquerque, foi nomeado para o cargo de assessor técnico I na Casa Civil da Prefeitura de Manaus, apenas 73 dias após a misteriosa suspensão das investigações sobre lavagem de dinheiro que envolviam o prefeito Arthur Virgílio Neto e sua esposa, Elisabeth Valeiko.
A operação, que estava sendo conduzida por forças de segurança como o Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO) e o GAECO, teve seu andamento interrompido em dezembro de 2019, o que levantou suspeitas de um possível acordo entre a procuradora e o prefeito para proteger interesses políticos e familiares.
A situação evidencia como interesses familiares podem interferir na independência das investigações e na atuação do Ministério Público, sugerindo que, por trás de decisões institucionais, há um jogo de favores que favorece figuras políticas de alto escalão, comprometendo a credibilidade e a imparcialidade do sistema de justiça.
No cenário atual, o que isso realmente significa para a integridade da CMM e para a relação entre a Câmara Municipal e o Ministério Público? Iuri e David Reis podem realmente agir de maneira imparcial, ou o que está sendo formado é uma blindagem explícita, onde interesses pessoais e familiares se sobrepõem ao compromisso com a justiça e com a população manauara?
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