No cenário político do Amazonas, a presença das mulheres continua sendo um tema de relevância e análise, onde a figura feminina tem despertado a atenção com avanços de ocupação de lugares em cadeiras legislativas e também enfrentando desafios do cotidiano. Historicamente, o Estado tem sido palco de uma política dominada por homens, refletindo uma estrutura social e cultural, que por muito tempo, limitou o acesso das mulheres aos espaços de poder.
Os desafios enfrentados pelas mulheres são muito recorrentes, tendo em vista a falta de financiamento adequado para suas campanhas, a persistência do machismo estrutural que tenta calar a voz desse grupo, além das barreiras de acesso aos círculos de decisão política tradicionalmente dominados pelo sexo masculino.
Um dos meios para tentar promover a inclusão desta parcela da população na política são as cotas eleitorais que reservam um percentual mínimo de candidaturas para esse grupo, além de programas de capacitação política que visam prepará-las para enfrentar os desafios do ambiente citado.
As eleições municipais de 2024 em Manaus apresentaram um grupo diversificado de candidatas, refletindo um novo momento na política da cidade. O Laranjeiras.News conversou com cinco pré-candidatas que representam diferentes setores da sociedade e trazem consigo a esperança de renovação e progresso para a capital.
Anne Moura
A pré-candidata à vereadora de Manaus pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e secretária Nacional de Mulheres do partido, Anne Moura, tem se destacado como a força da mulher na sigla. Nas eleições de 2022, concorreu ao cargo de vice-governadora, ao lado de Eduardo Braga, traçando um caminho para que a sociedade amazonense conhecesse sua história de luta pelos direitos de mulheres.
“Meu foco é promover políticas que atendam especificamente às necessidades das mulheres e crianças, como saúde materna, educação, proteção contra a violência doméstica e renda, garantindo que as políticas públicas sejam mais inclusivas e reflitam as necessidades de toda a população”.
Como Secretária Nacional de Mulheres do PT, Anne tem vasta experiência em organizar e trabalhar com mulheres em todo o Brasil. "Já reunimos muitos líderes nacionais aqui em Manaus. Em abril de 2023, lançamos o Projeto Elas Por Elas 2024, com diversas lideranças do meio político", destaca.
Sua atuação como Coordenadora do Fórum Nacional de Instâncias de Mulheres de Partidos reforça seu compromisso com a inclusão de mais mulheres nos espaços de poder e decisão. "Não somos rivais; estamos unidas pelo mesmo objetivo: a ampliação da representatividade no cenário político da cidade de Manaus", acrescenta.
Anne Moura também se dedica a combater a violência política de gênero, um desafio que ela e outras pré-candidatas enfrentam frequentemente.
"Nós, mulheres, somos mais da metade do eleitorado e precisamos estar nos espaços de poder, principalmente no político", afirma. Ela se orgulha de ser um modelo para jovens que desejam seguir seus passos. "Muitas jovens me param e se dizem representadas por essa minha luta por 'Mais Mulheres na Política'. Trabalho todos os dias nessa construção para mudanças reais na luta por mais representatividade feminina na política, não só em Manaus, mas em todo o Brasil!", conclui.
Carol Braz
A pré-candidata a vereadora de Manaus pelo MDB, Carol Braz, dedicou anos de sua carreira no serviço à população amazonense, ex-juiza, a defensora pública que também disputou o governo do Amazonas nas eleições de 2022, enfatiza que seus temas prioritários são voltados às minorias, destacando seu compromisso com mulheres, crianças, idosos e pessoas com deficiência.
"Sempre trabalhei em prol dessas pessoas. Acolher quem mais precisa e dar oportunidades a esses grupos deve ser prioridade. A colaboração com lideranças e com o terceiro setor é de extrema importância para fazer com que o trabalho social chegue onde o estado não chega. Planejo fortalecer e valorizar bons trabalhos sociais que estão sendo desenvolvidos”, disse Braz.
A pré-candidata também acredita que políticas inclusivas são essenciais para promover a equidade social e atender às necessidades das populações mais vulneráveis. Com histórico significativo de participação política, ela acredita que introduzir a figura feminina nesse meio deve ser fortemente incentivada para garantir uma melhor representação das mulheres.
“Fui a única candidata mulher ao governo do estado nas eleições de 2022. Vejo que a participação feminina na política deve ser incentivada, para que as mulheres sejam melhor representadas. A violência política de gênero ainda é realidade, e deve ser combatida”, argumentou Carol Braz.
Maria do Carmo
Maria do Carmo, mestre e doutora em direito, e pré-candidata à prefeita de Manaus pelo Partido Novo, entrou na política motivada pela baixa representatividade feminina e pelos desafios enfrentados pelas mulheres em uma sociedade ainda machista. Ela destaca que essa desigualdade se reflete em todas as esferas da sociedade, além nos alarmantes índices de violência de gênero.
"Temos um dom natural para gerir e para cuidar, tenho certeza que as mulheres têm muito a colaborar com as políticas públicas que podem melhorar a vida de todos", afirma Maria, ressaltando a importância da presença feminina na política para promover mudanças significativas.
A política ainda é dominada por homens, e muitas mulheres acabam servindo apenas de apoio para candidaturas masculinas. Para combater isso, a candidata esclareceu que o partido Novo oferece treinamentos e palestras às suas filiadas, capacitando-as para servir ao povo.
“No partido Novo a gente costuma dizer que nossa cor é laranja, mas nós não somos laranjas. Essa questão é fortemente combatida pelo Novo, que realmente investe e aposta nas candidaturas femininas, eu sou exemplo disso”, disse Do Carmo.
Se eleita, Maria do Carmo promete um "choque de gestão" para Manaus, com frentes amplas e integradas de trabalho que abordarão problemas crônicos de infraestrutura, saneamento, trânsito, transporte, saúde, educação e segurança. Ela acredita que sua experiência na iniciativa privada, onde deixou um legado significativo de 40 anos de trajetória na educação, com a Fametro, e para o desenvolvimento da cidade, com a Santa Casa de Misericórdia e o novo Tropical Hotel Amazônia, pode contribuir para uma gestão municipal mais eficiente e inclusiva, refletindo a capacidade e sensibilidade das mulheres.
“Sempre que uma mulher tem a coragem para abrir novos caminhos, torna mais fácil a caminhada para outras que venham depois dela. Temos visto isso ao longo da história e, assim como fiz em mais de 40 anos de trajetória na iniciativa privada, deixando um legado de contribuições na educação, com a Fametro, e para o desenvolvimento da cidade, pretendo mudar a forma de fazer política, mostrando o quanto uma mulher pode colaborar com as mudanças que Manaus precisa e merece”, enfatizou Maria do Carmo.
Michelle Andrews
A produtora cultural Michelle Andrews destaca o empoderamento e a emancipação das mulheres como o tema central de sua pré-candidatura à vereadora de Manaus. Seu foco está concentrado em ações para combater a violência doméstica, o assédio sexual, o feminicídio e todas as formas de discriminação e opressão contra mulheres na capital.
"Nossa proposta considera as múltiplas dimensões da opressão, como raça, classe, orientação sexual e identidade de gênero", explica Michelle.
Entre suas iniciativas estão o apoio a organizações da sociedade civil com projetos e casas de abrigo para mulheres vítimas de violência doméstica, além do fortalecimento do conselho municipal dedicado às questões de gênero para assegurar a participação ativa das mulheres na formulação de políticas públicas.
“Pretendo colaborar estreitamente com lideranças femininas e grupos de defesa dos direitos das mulheres para desenvolver políticas inclusivas. Organizaremos encontros regulares e eventos de formação, além de criar uma rede de comunicação para troca de experiências e apoio mútuo”, enfatizou a pré-candidata.
Com sua candidatura, Michelle Andrews espera inspirar futuras gerações de lideranças femininas e fortalecer a representação das mulheres na política amazonense.
"Implementaremos programas de mentoria para jovens líderes femininas e incentiva propostas legislativas que promovam a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres na cidade", promete.
Natalia Demes
Natalia Demes, advogada e pré-candidata à prefeitura de Manaus pelo PSOL, apresenta uma plataforma política que coloca a saúde, educação, trabalho e renda como prioridades, com um olhar atento às necessidades das mulheres amazônicas.
"Os interesses das mulheres da Amazônia são a maior razão da minha atividade política, não apenas por serem a maior parte da população, mas também porque venho do movimento social que pauta a maternidade e a saúde da mulher, principalmente contra a violência obstétrica", afirmou Demes.
A proposta de Demes busca um acesso pleno e inclusivo aos serviços essenciais, refletindo seu compromisso com a luta pelos direitos das mulheres e a justiça social, bem como de indígenas e de minorias. Ela destacou ainda a necessidade de uma gestão participativa e democrática, ouvindo ativamente os movimentos sociais.
“Minha candidatura vem para reforçar a ocupação desse espaço, com a demonstração de que, quando nos apoiamos e estabelecemos uma rede de apoio institucionalizada no partido, todo mundo cresce", afirmou.
De acordo com a pré-candidata, incentivar a participação política feminina e combater as desigualdades de acesso e a violência política de gênero é crucial para um futuro mais inclusivo e inspirador para todas as mulheres e crianças do Amazonas.
“Sabemos que a representação das mulheres na política amazonense é mínima, com muitos partidos cumprindo apenas os 30% que a legislação exige, sem incentivar verdadeiramente a permanência de quadros femininos e, inclusive, já temos um histórico de fraude à cota de gênero. Estamos atentas. Mulheres líderes não apenas buscam representar seus eleitores, mas também trazem perspectivas únicas e experiências diversificadas para o debate político”, concluiu Natalia Demes.
Exemplos de liderança feminina na política local têm sido destacados, mostrando o impacto positivo que as mulheres exercem na formulação de políticas públicas que atendem às necessidades da população. Mulheres líderes não apenas representam seus eleitores, mas também trazem perspectivas únicas e experiências diversificadas ao debate político.
Olhando para o futuro, as perspectivas para a participação política das mulheres na Amazônia são promissoras, embora ainda haja um longo caminho a percorrer para alcançar a plena igualdade de gênero. Com o apoio contínuo da sociedade civil, políticas inclusivas e o fortalecimento do compromisso com a equidade de gênero, espera-se que as mulheres continuem a desempenhar um papel crucial na construção de uma sociedade mais justa e representativa na região amazônica.
Realidade Local
No cenário atual da 18ª Legislatura da Câmara Municipal de Manaus (CMM), apenas quatro dos 41 vereadores são mulheres: Glória Carratte (PL), Jacqueline Coelho (UB), Thaysa Lippy (Progressistas) e Yomara Lins (PRTB). Na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam), a disparidade de gênero também é evidente.
Entre os 24 deputados estaduais, apenas cinco são mulheres: Alessandra Campêlo (Podemos), Joana Darc (UB), Débora Menezes (PL), Mayara Pinheiro (Republicanos) e Mayra Dias (Avante).
Vale destacar que essas cotas ainda não são o suficiente para equiparar os cargos entre homens e mulheres. (E quando se fala em uma sociedade que vai muito além desses dois gêneros, a igualdade fica ainda mais distante).
Desigualdade de gênero na política municipal brasileira
A falta de presença feminina na política brasileira é um fenômeno marcante e multifacetado, evidenciado por dados recentes. De acordo com levantamento do TSE, apenas 45 das 5.568 cidades brasileiras que realizaram eleições municipais em 2020 tinham uma maioria de mulheres em suas câmaras de vereadores, o que representa menos de 1% do total.
A maioria desses casos ocorre em municípios de pequeno porte, com menos de 15 mil habitantes, conforme dados do IBGE. Em contraste, apenas um desses municípios ultrapassa a marca de 100 mil habitantes, como o caso de Araras (SP), onde seis das onze cadeiras da Câmara de Vereadores são ocupadas por mulheres, destacando-se significativamente dos demais.
A sub-representação feminina na política municipal reflete um contexto mais amplo de desigualdade de gênero e barreiras estruturais persistentes. Fatores como financiamento de campanhas, acesso a recursos políticos e culturais, além de estereótipos de gênero arraigados, contribuem para limitar a participação das mulheres nos processos eleitorais e nas esferas decisórias.
A concentração dessas minorias femininas em municípios menores sugere desafios adicionais, incluindo limitações de infraestrutura e oportunidades de desenvolvimento político e econômico. Para promover uma representação política mais equitativa e inclusiva, são necessários esforços contínuos para enfrentar essas barreiras sistêmicas e promover a igualdade de gênero em todos os níveis do governo local e nacional. Iniciativas que visem aumentar a conscientização, fortalecer redes de apoio e implementar políticas de cotas são passos fundamentais para ampliar a voz e a participação das mulheres na vida política do Brasil.
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