Imagine uma substância que pode te levar a uma jornada desconecta do mundo físico, como se flutuasse além da realidade, causando uma sensação de alívio ou sedação. A cetamina é exatamente isso - um anestésico dissociativo que, desde os anos 60, tem sido usado tanto na medicina veterinária quanto na humana. No entanto, seu uso ganhou destaque recentemente com um caso envolvendo uma suposta seita e a trágica morte da ex-sinhazinha do boi Garantido, Djidja Cardoso, que teria utilizado uma dosagem excessiva da substância.
A cetamina, conhecida comercialmente como Ketalar, Cetamin, entre outros, é amplamente utilizada como anestésico. No entanto, quando usada de forma recreativa e sem supervisão médica, pode causar efeitos psicotomiméticos e alucinógenos, representando um risco significativo para a saúde, levando até a morte.
Ao Laranjeiras.News, o médico Dr. Agerdan Barroso, especialista em medicina intensiva, esclareceu os efeitos e riscos associados ao uso da cetamina, fármaco que tem despertado crescente preocupação.
Para que se possa entender os efeitos dessa substância, o médico explicou que o fármaco é utilizado para tratar dor aguda e crônica, inclusive em situações onde outros analgésicos são ineficazes.
“O cloridrato de acetamina também conhecido como cetamina ou ketamina é um medicamento de uso controlado em um ambiente hospitalar em pacientes muito graves, geralmente os que estão sobre cuidados intensivos ou em centro cirúrgico que apresentam dores intensas, um exemplo é pacientes que sofreram algum tipo de queimadura”, explicou Argedan.
Indicações e Impactos da substância
Por ser uma droga farmacêutica de grande impacto, a cetamina é amplamente utilizada em cirurgias e procedimentos médicos por sua eficácia rápida e segura, quando utilizada por um profissional.
Segundo o especialista, essa substância é especialmente útil em ambientes de emergência, que possibilita que o paciente aguente de forma indolor o procedimento cirúrgico ao qual ele está sendo submetido, pois pode ser administrada por várias vias, incluindo intravenosa e intramuscular, além de ser usada com outros medicações complementares.
“A cetamina é indicada para alcançar dois resultados: o primeiro é a diminuição da dor através do seu efeito anestésico; e o segundo é pelo seu efeito depressor e sedativo, que com auxílio de muitas outras medicações usadas na UTI, centro cirúrgico, leva o paciente ao coma induzido para que ele fique dormindo, enquanto o ventilador mecânico trabalha para que o paciente aguenta o procedimento cirúrgico”, esclareceu.
Efeitos Colaterais e Riscos
Embora a cetamina possa ser utilizada em procedimentos cirúrgicos devido às suas propriedades anestésicas e analgésicas, há alguns riscos associados ao seu uso quando usado de forma recreativa. Alguns desses riscos incluem efeitos psicológicos adversos, reações cardiovasculares e respiratório.
“Essa medicação, quando usada em uma dose abaixo do habitual de forma recreativa, causa o efeito de alucinação, efeito psicodélicos, podendo levar a um estado de transe e diminuição da percepção da realidade, amnésia temporária, diminuição dos movimentos, além de sonhos vividos”.
Além disso, a alta dosagem pode levar a óbito devido a problemas de saúde em decorrência do uso do medicamento de forma irregular, como a ‘depressão respiratória’, ocasionando a Hipóxia, alerta o especialista.
“Os riscos de alta dosagem são principalmente o que a gente chama de depressão respiratória. O efeito de sedação vai ser tão intenso que os movimentos respiratórios vão cessar e uma vez com esses movimentos parados e essa capacidade de respiratória parada, sem que o usuário não esteja em um ambiente hospitalar para receber oxigênio e talvez sem entubado, ele não vai conseguir levar a oxigênio ao corpo e vai sofrer um processo de hipóxia. Como nós, seres humanos geralmente não duram mais que 3 minutos sem respirar, essa condição pode levar ao óbito”, explica.
Usuário de Cetamina: Perfil e Impacto
Aqueles que já experimentaram a cetamina, seja por orientação médica ou uso recreativo, são confrontados com uma série de experiências e desafios singulares. Desde os efeitos imediatos da substância até possíveis repercussões de longo prazo, o uso da cetamina pode deixar uma marca profunda na trajetória de vida de uma pessoa.
Bia, que usou a substância para tratar de uma depressão profunda, compartilhou sua experiência, desde sua saúde física e mental até suas relações interpessoais e seu bem-estar geral.
De acordo com a jovem, ao ter a prescrição para tomar o medicamento, pesquisou muito sobre os efeitos, já que se deparou com histórias de dependência da cetamina, o que causou receio e medo ao introduzir a substância em seu corpo.
“Quando meu médico me examinou e me deu a possibilidade de medicações, me deparou com a cetamina, que segundo o especialista, me ajudaria a tratar minha doença. Cheguei em casa, fui até o notebook e passei a pesquisar sobre o remédio. O meu doutor me explicou os efeitos e melhorias na minha qualidade de vida, mas eu queria relatos de pessoas reais que tomam esse medicamento e conseguiram melhorar. Eu precisava de respostas concretas”, revelou a jovem.
Bia conta que no início de sua introdução ao medicamento, tentou ao máximo lidar com a droga como um bem para a saúde e não uma substância de efeito rápido, que apenas lhe causaria uma sensação de bem-estar repentina.
“Quando passei a tomar cetamina, tive muito cuidado em relação aos impactos desse remédio. A primeira vez que tomei me senti bem por 15 minutos e aí surgiram os efeitos colaterais. Passei alguns dias pensando se era realmente uma boa ideia me submeter a cetamina, mas com ajuda da minha família, consegui passar pelo tratamento de forma leve e segura. Hoje, consigo controlar minha doença e a ter qualidade de vida”, disse.
Bia ressaltou que para ela, compreender melhor esses impactos, foi uma forma valiosa de aprender e a considerar diversos aspectos, incluindo as indicações médicas, os benefícios terapêuticos, os possíveis efeitos colaterais e os protocolos de administração.
Dependência e Abuso
A cetamina tem potencial para abuso e pode levar à dependência, especialmente por conta dos efeitos dissociativos e eufóricos, usada como droga recreativa, muitas vezes referida como "Special K".
O uso recreativo da cetamina pode causar danos físicos, como lesões na bexiga e no trato urinário, problemas renais e hepáticos, além de comprometimento da função cognitiva e memória. Com o tempo, os usuários podem desenvolver tolerância à cetamina, o que significa que precisam de doses cada vez maiores para alcançar os mesmos efeitos desejados, aumentando o risco de overdose e outros danos à saúde.
Além disso, pode levar a comportamentos de risco, como dirigir sob a influência da droga, envolvimento em atividades perigosas ou violentas, e colocar a própria vida e a vida dos outros em perigo.
É importante buscar ajuda médica e psicológica caso você ou alguém que conheça esteja lutando contra o abuso ou dependência da cetamina.
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