Manaus (AM)- No coração da Amazônia, em Manaus, um embate crucial se desenrola para proteger as riquezas naturais do Amazonas. O Ministério Público Federal (MPF) deu um ultimato à Agência Nacional de Mineração (ANM): suspender, negar ou anular diversos processos minerários que ameaçam a integridade de áreas protegidas. Essas áreas incluem Unidades de Conservação (UCs) e Terras Indígenas (TIs), pilares da biodiversidade e cultura local. A ANM tem um prazo de 90 dias para acatar as determinações.
Inquérito Revela Padrão de Irregularidades na Mineração
A recomendação do MPF é o desfecho de um inquérito civil que mergulhou nas entranhas dos títulos e requerimentos de lavra na região. As investigações revelaram um padrão alarmante: pedidos de mineração por pessoas físicas, empresas e cooperativas frequentemente se sobrepõem ou se aproximam perigosamente de áreas ambientalmente sensíveis.
O ponto de partida foram dados do WWF-Brasil, acessados via Portal da Transparência do Ouro, que identificaram 50 processos com irregularidades no Amazonas. Destes, o MPF confirmou que 21 ainda estão ativos, operando como uma ameaça constante ao equilíbrio ecológico. A solidez das conclusões foi garantida por análises rigorosas da Secretaria de Perícia, Pesquisa e Análise (Sppea) da Procuradoria-Geral da República (PGR) e da Assessoria de Pesquisa e Análise Descentralizada (Asspad) da Procuradoria da República no Amazonas (PRAM).
As irregularidades, segundo o MPF, seguem um roteiro preocupante:
Para o MPF, essa proximidade e sobreposição não são coincidência. Elas representam uma tática para fracionar artificialmente o território em concessões menores e contíguas, criando um "super polígono de exploração". O objetivo? Driblar os limites máximos previstos em lei (como 50 hectares para pessoas físicas ou 1.000 para cooperativas), comprometendo a análise integrada dos impactos ambientais e, por fim, violando o Princípio do Desenvolvimento Sustentável.
O procurador da República André Porreca, titular do 2º Ofício da Amazônia Ocidental e especialista no combate à mineração ilegal, não poupou palavras: "O que está em jogo não é apenas o descumprimento de normas, mas um padrão sistemático de expansão minerária que usa brechas legais para ocupar áreas sensíveis da Amazônia. É uma estratégia que transforma o regime jurídico da mineração em ferramenta de erosão territorial, avançando onde o Estado deveria proteger".
Unidades de Conservação Ameaçadas
Entre as áreas mais diretamente impactadas estão a Estação Ecológica Alto Maués e o Parque Nacional dos Campos Amazônicos. O MPF lembra que as Estações Ecológicas são criadas para a preservação integral da natureza e pesquisa científica, enquanto os Parques Nacionais visam proteger ecossistemas de alta relevância e beleza cênica, permitindo atividades controladas como educação ambiental e turismo ecológico. Ambas são, por definição, incompatíveis com a mineração predatória.
A ANM tem um prazo de 30 dias para se posicionar sobre o acatamento da recomendação. A omissão poderá acarretar medidas administrativas e judiciais. O futuro dessas importantes porções da Amazônia está, literalmente, nas mãos da agência.
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