23°C 28°C
Manaus, AM
Publicidade

'O que sobrou foi o interesse da imprensa' diz Eliesio Marubo sobre a morte de Dom e Bruno 

Dom Phillips e Bruno Pereira foram mortos em 5 de junho de 2022, enquanto realizavam uma expedição de documentação e monitoramento no Vale do Javari, Amazonas

05/06/2025 às 11h58 Atualizada em 05/06/2025 às 12h02
Por: Thais Souza Fonte: Diversa AM
Compartilhe:
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

MANAUS (AM) - Há três anos, o Brasil e o mundo noticiavam a trágica morte de dois defensores incansáveis da Amazônia: o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira.

Eles foram brutalmente assassinados no Vale do Javari, uma das regiões mais remotas e ameaçadas da floresta amazônica. O caso, que chocou o país e mobilizou a comunidade internacional, ainda carece de respostas definitivas — especialmente sobre os mandantes do crime.

Para marcar essa data e refletir sobre os desdobramentos do caso, o Diversa AM conversou com exclusividade com Eliesio Marubo, procurador jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Marubo, que esteve à frente das buscas e da articulação pela responsabilização dos culpados, falou com franqueza sobre os entraves nas investigações, o silêncio das autoridades e o papel da sociedade civil.

“O que sobrou de fato no apagar das luzes foi o interesse da imprensa em manifestar ainda cobertura nesse tema, nessa pauta”, afirmou Eliesio.

A fala sintetiza o sentimento de abandono que paira sobre o caso. Para Marubo, apesar da comoção inicial e das prisões feitas logo após os assassinatos, o poder público falhou em investigar a fundo as redes criminosas por trás dos executores.

“A gente acredita que o Ministério Público tem competência, tem condição para fazer com que essa investigação de fato tenha um desdobramento final”, disse. “Mas o que vimos foram atuações esporádicas, isoladas. Isso não reflete um combate real ao crime organizado na região.”

Investigações estagnadas

As investigações sobre os mandantes permanecem inconclusas. Três anos depois, apenas os autores materiais do crime foram responsabilizados. O núcleo político e econômico que sustenta o crime organizado no Vale do Javari — região marcada por garimpo ilegal, pesca predatória e tráfico de drogas — segue intocado.

“As investigações não tiveram o aprofundamento que nós tínhamos sugerido, justamente por conta dos indícios iniciais”, apontou Marubo. “Apenas aquelas pessoas que foram presas inicialmente devem responder pelo crime, deixando o resto do conjunto de investigação fora.”

Durante as buscas por Dom e Bruno, a própria Univaja assumiu a linha de frente. Enquanto o Exército procurava pistas fora do território, os indígenas e defensores locais estavam dentro da floresta, mapeando trilhas e organizando esforços de resgate.

“Foi noticiado por vocês da imprensa: a polícia não estava muito ligada no que estava buscando”, lembra Eliesio. “Nós estávamos dentro do território, enquanto o Exército procurava fora.”

Proteção ainda insuficiente

Uma das maiores promessas do governo federal foi melhorar a proteção aos defensores da floresta. Mas, segundo Marubo, pouco mudou desde 2022.

“As nove pessoas que estão no programa [de proteção], que decorreu desse fato, precisam de escolta aproximada e diária. Isso não acontece, justamente, por conta da burocracia estatal”, denunciou.

Apesar de avanços pontuais — como o início de acordos de cooperação técnica entre Univaja, Polícia Federal, IBAMA e FUNAI —, Eliesio vê com ceticismo a efetividade dessas iniciativas.

“Na prática, acreditamos que isso não vai acontecer antes do final do governo, justamente por conta da burocracia que envolve esse tipo de acordo.”

Resistência e solidariedade

Se por um lado as instituições falham, por outro, a resistência da sociedade civil se fortalece. Organizações, coletivos e veículos independentes seguem comprometidos com a memória de Dom e Bruno e com a luta por justiça.

“A imprensa livre, a imprensa independente e a sociedade civil organizada têm dado suporte para a Univaja nesse ponto. Nós temos feito grandes coisas na região, fortalecendo nossas frentes, aumentando nossa linha de atuação. Estamos só nessa pauta, mas não estamos sozinhos.”

Três anos depois, o silêncio das autoridades ecoa tão alto quanto os tiros que calaram Dom e Bruno. Mas o Vale do Javari ainda fala — e exige ser ouvido.

Relembre o Caso 

Dom Phillips e Bruno Pereira foram mortos em 5 de junho de 2022, enquanto realizavam uma expedição de documentação e monitoramento no Vale do Javari, Amazonas. Ambos denunciavam a presença de grupos criminosos em território indígena e buscavam dar voz aos povos originários da floresta.

O assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira expôs, com brutalidade, a conivência histórica do Estado com a destruição da Amazônia e a violência contra aqueles que ousam defendê-la. O caso não foi um ponto fora da curva — ele revelou o que já era cotidiano para muitos povos da floresta: a negligência, o medo, o abandono.

O que aconteceu no Javari poderia ter acontecido — e continua acontecendo — em muitos outros cantos da Amazônia profunda, onde a lei raramente chega, mas o crime, sim.

Neste 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, o Brasil é lembrado de que proteger a floresta passa, antes de tudo, por proteger quem vive nela e luta por ela.

A memória de Dom e Bruno é semente: ela germina na luta dos povos indígenas, na insistência dos jornalistas que seguem investigando, e na coragem de quem, mesmo diante do silêncio das autoridades, se recusa a esquecer.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
Manaus, AM
23°
Neblina

Mín. 23° Máx. 28°

24° Sensação
2.06km/h Vento
94% Umidade
100% (6.56mm) Chance de chuva
07h02 Nascer do sol
06h58 Pôr do sol
Sáb 28° 23°
Dom 31° 23°
Seg 31° 23°
Ter 31° 23°
Qua 30° 23°
Atualizado às 01h04
Publicidade
Publicidade
Economia
Dólar
R$ 5,54 +0,05%
Euro
R$ 6,42 +0,07%
Peso Argentino
R$ 0,00 +0,00%
Bitcoin
R$ 610,094,49 -2,25%
Ibovespa
137,799,73 pts 0.49%
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade